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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Construindo a crítica

Numa pilha de colaborar pro debate (iniciado ontem por aqui no blog) sobre o aquecimento de certas estruturas sob o efeito da energia solar inadvertidamente (em outras palavras: sem querer), eu queria lançar algumas referências de projetos que sofreram com a temperatura ou que fizeram seus vizinhos sofrer.
foto: Graphic-J, via Gamespy Forum.
A idéia aqui, longe de querer prolongar uma polêmica pessoal, é de contribuir com as experiências do que já sabemos que dá problema, pra que a partir daí possamos evitá-los.
Começamos com um dos mais celebrados arquitetos da década de 2000, Frank O. Ghery e seu multi-milionário Walt Disney Concert Hall em Los Angeles, California. Um prédio emblemático que buscou levar a tecnologia do revestimento de titânio do Guggenheim de Bilbao a um outro nível, através do polimento perfeito da superfície para criar um aspecto de jóia que brilha sob o sol. Lindo não? Pois até pode ser, mas para os vizinhos da edificação isso foi um problema sério. Em fevereiro de 2004 a BBC relata que, após a conclusão de um estudo de um ano inteiro sobre a dispersão da radiação solar provocada pelo revestimento, conclui-se que realmente, as superfícies côncavas e convexas da edificação criavam efeito semelhante ao de lentes, concentrando os raios solares em edificações vizinhas e aquecendo-as enormemente. O site americano eHow também comenta sobre diversos problemas causados pelo revestimento/forma do edifício, que culminaram com o jateamento de partes das superfícies polidas para diminuir a sua reflectividade.
Declara o site que "Com a aprovação de Ghery, técnicos cuidadosamente fizeram o jateamento de areia em algumas áreas da superfície da edificação, tornando-a menos refletiva.(1)" Ainda vale a pena conferir um artigo do professor Marc Schiler e da estudante Elizabeth Valmont da University of Southern California sobre este edifício, que mostra inclusive mapas da dispersão da radiação e do acúmulo de energia na edificação. O USA Today também publicou sobre o assunto.
Outro problema é o controle do aquecimento interno a edificação. Há muita bibliografia sobre o tema, mas vale ressaltar alguns dados ambientais, por exemplo, de Porto Alegre. Temos em média 6 horas de incidência solar diária direta (acima da linha do horizonte)(2) que se reflete (sem trocadilhos) em 4,4kwh/m2.dia na média da radiação solar no plano horizontal. Esta média, aliás, pode enganar, pois temos variação de 6,50kwh/m2.dia em dezembro e 2,42kwh/m2.dia em junho(3). Deixo as análises para quem souber algo do assunto, mas sabemos, os moradores da capital gaúcha, que a coisa é quente nos meses de dezembro a fevereiro por aqui. 
Não me alongo mais, mas deixo apenas essas informações para que possamos ao menos discutir o que fazer e o que não deve ser feito.
Por outro lado, há trabalhos muito interessantes que se utilizam do clima e das forças da natureza para seu benefício. Um dos mais de vanguarda é o WEATHERS, que constuma "brincar" com clima. Um livro, que recomendo pois já o li é o -Arium (4), que mostra projetos MUITO de vanguarda sobre o tema de clima x arquitetura.
abraços!

(1) Tradução livre a partir do original em inglês.
(2) Segundo o Atlas da Energia Elétrica, da ANEEL (Atlas da Energia Elétrica 2a Ed. Brasilia: ANEEL, 2005.)
(3) Dados do Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica/ELETROBRAS através do software SunData (http://www.cresesb.cepel.br/sundata/index.php) para as coordenadas 30,033055°S e 51,230000°O - Porto Alegre. Acesso a simulação pode ser feito no link acima.
(4)  BHATIA, Neeraj e MAYER, Jürgen [editores]. -Arium: weather and architecture. Toroto: Hadje Cantz, 2010.

Um comentário:

  1. Pra ficar como referência, aqui tem alguns exemplos de arquitetura que utiliza os recursos naturais de forma eficiente:

    http://thisbigcity.net/the-worlds-greatest-bioclimatic-architecture/

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